quarta-feira, 28 de maio de 2008

Emoções de sucesso: o papel da inteligência emocional

Cristiane Ribeiro Assis


Antigamente acreditava-se ser o Q.I. (quociente de inteligência), ou seja, a capacidade cognitiva de uma pessoa, que determinava se ela seria ou não bem-sucedida na vida. Mas, nos dias atuais, existe um grande reconhecimento sobre o papel e a importância da inteligência emocional na conquista do sucesso.

Segundo a psicóloga Daniela Levy, inteligência emocional é um tipo de inteligência que envolve as habilidades para perceber, entender e influenciar as emoções. A inteligência emocional está relacionada com habilidades, tais como persistir mediante frustrações e controlar impulsos. Em outras palavras, nada mais é do que a capacidade de autoconhecimento e autocontrole, aptidões que não podem ser aprendidas em livros, mas sim através de experiências vividas.

Para entender de que maneira isso ocorre e perceber a importância da atuação dos pais sobre essa característica tão necessária na vida de todos nós, vamos procurar compreender um pouco sobre o Sistema Nervoso Central (SNC), local onde as emoções são processadas e desencadeiam respostas no restante do corpo.

Ao longo da evolução, o cérebro humano sofreu grandes transformações que permitiram o desenvolvimento de nossas habilidades. Com elas, os seres humanos foram capazes de tamanho destaque entre os demais habitantes do planeta.

Considerando o estudo evolutivo, observa-se que o cérebro humano pode ser dividido em três partes distintas, funcional e evolutivamente:

Cérebro reptiliano (primitivo): responsável pelo comportamento sexual, alimentar, de sono-vigília e agressivo. Contribui decisivamente para a sobrevivência da espécie ou grupo.

Cérebro límbico (das emoções): possui o centro das emoções e está intensamente ligado ao cérebro reptiliano. Sua atuação possibilita uma adaptação mais perfeita da espécie ao meio em que vive, aumentando as chances de sobrevivência e reprodução. Na espécie humana, é o substrato das emoções primitivas e realiza constante troca ou feedback com o neocórtex para aprimoramento das emoções.

Neocórtex (cérebro evoluído): apesar de presente em outros mamíferos, atinge o máximo de seu desenvolvimento e aperfeiçoamento nos seres humanos. Permite a realização de tudo aquilo que nos diferencia e identifica como seres humanos.

As conexões entre o neocórtex e os demais cérebros se dão de tal forma que, hierarquicamente, ele tenha predominância, podendo inibir ou exacerbar os impulsos que neles foram gerados.

Durante o período embrionário, o desenvolvimento cerebral ocorre das estruturas mais simples para as mais complexas. Qualquer comprometimento na formação do cérebro reptiliano ou límbico afetará, portanto, o desenvolvimento do neocórtex. Além disso, durante o período de vida intra-útero, as conexões entre os neurônios que compõem o SNC estão acontecendo de uma forma tão intensa que jamais, em nenhum outro momento de sua vida, elas serão tão numerosas e com um crescimento tão acelerado. As conexões que forem utilizadas por esse bebê persistirão enquanto as demais desaparecerão.

Estudos da Biopsicologia têm demonstrado que as emoções levam à produção de hormônios e neurotransmissores que, através da circulação sanguínea, atingem todas as demais células do corpo. Na grávida, essas substâncias, quando em grande quantidade, não podem ser contidas pela placenta e atingem o bebê, levando-o a apresentar as mesmas respostas químicas e físicas de sua mãe.

Se a emoção materna for boa, não haverá nenhum problema, muito pelo contrário. Contudo, se essa mãe estiver, por exemplo, sob constante estresse, ela estará enviando ao seu bebê a mensagem de que, ao nascer, ele deve estar apto a responder efetivamente a situações como essa. As conexões cerebrais que serão fortalecidas nessa criança são aquelas que permitem uma resposta rápida e impulsiva, próprias do mecanismo de luta ou fuga diante de um agente agressor. Em contrapartida, as conexões que inibem a impulsividade dos cérebros inferiores e que são responsáveis pela inteligência emocional serão comprometidas.

Por esse motivo, estimulamos que as gestantes, pensando no futuro de sucesso e felicidade que desejam para seus filhos, evitem situações desagradáveis durante a gravidez e desenvolvam mecanismos (meditação, prece, relaxamento, yoga, atividade física, etc.) capazes de amenizar suas repercussões quando tais momentos forem inevitáveis. Assim, desde intra-útero, estarão ensinando seus filhos a controlarem suas emoções.

O grande desenvolvimento e a plasticidade do cérebro humano persistem, apesar de ocorrerem em menor velocidade, até o segundo ano de vida do bebê e podem ser utilizados conscientemente pelos pais após o parto. Só que agora, ao invés dos neurotransmissores maternos, os exemplos dos pais serão as grandes ferramentas utilizadas. É sobre isso que falaremos no artigo do próximo mês.
Até lá.


Referências:
Prenatal Parenting (Frederick Wirth)
Pre-Parenting (Thomas R. Verny)
Neurofisiologia do comportamento (Maria A. D. de Oliveira)
Biopsicologia ( John P. J. Pinel)
Molecules of Emotion ( Candance B. Pert)
Revista Primeiros Passos (Ano 1, número 4)


*Matéria publicada na Folha Espírita em março de 2008.

0 comentários: