quinta-feira, 19 de junho de 2008

OMISSÕES

No íntimo acreditam-se neutros. São portadores, porém, de uma neutralidade conveniente, adotando posição parasitária, como se fora possível a indiferença ante as questões palpitantes da vida.
Não se desejam comprometer. Preferem ser arrastados pela força voluptuosa dos sucessos, invariavelmente negativos, embora se façam crer pessoas honestas e interessadas no progresso do bem.
Omissos, esperam que o tempo tudo resolva, sem oferecerem a contribuição decisiva para apressar a chegada da oportunidade promissora que fomenta o êxito das realizações.
Em verdade, tornam-se frios, hipnotizados pela comodidade, após perderem o calor do ideal e a vibração positiva da fé.
Anseiam por melhores dias, mas nada fazem por produzi-los.
Agitam-se em círculo vicioso de especulações imediatistas, sem a contribuição decisiva pelas realizações superiores.
Aqui, em face ao desgoverno de muitas coisas, erguem os ombros, dizendo nada terem com isso; ali, fingem não ver, asseverando que a questão não lhes é pertinente; adiante, passam por cima dos gritantes descalabros, informando que lhes não cabe atitude alguma... No entanto, comentam, combatem, exigem providências dos outros, portadores que são de larga percepção para condenar e ruminar pessimismo.
São espíritos doentes, sem dúvida, portadores de virose singular. Algumas vezes, quando convém, aderem à facção maior, a que lhes parece vitoriosa, ou, normalmente, permanecem na posição dúbia de quem está indeciso.
O cristão legítimo, particularmente o espírita, é dinâmico, combativo no sentido ideal da palavra, pugnando sempre pelas causas superiores, envidando todo esforço pela direção segura do ideal que esposa.
Não se entibia quando surgem dificuldades, nem se arreceia quando se multiplicam problemas.
Recorda-se que a Causa do Cristo sempre esteve em minoria na Terra, e que, todavia, é a Causa da Verdade.
Diante dele avolumam-se os valores legítimos do bem e torna-se, em conseqüência, expressão do bem onde se encontra.
O clamor da desordem não lhe abafa a voz, porque esta é a do exemplo; a opressão não o esmaga, porque rutilam suas realizações; o desânimo não o vence, em razão de haurir reforço de energias, nas Fontes da Espiritualidade Superior; a calúnia não o afeta, em face ao estoicismo com que vive a verdade, e prossegue, sempre o mesmo, sem pressa, mas com decisão, confiando na vitória final, após a ultima batalha que lhe compete travar.
A omissão, no entanto, é responsável pelo desmoronamento de ideais enobrecedores com que a Humanidade sempre foi contemplada, porquanto estimula a desordem, no silêncio conivente; açula a ira, pela morbidez que dissemina; favorece a fuga dos dubitativos que se resolvem pela atitude mais fácil... Omissão é, também, ausência de firmeza de caráter, cobardia moral.
A omissão de muitos dos companheiros e beneficiários de Jesus contribuiu largamente para o drama do Calvário.
O silêncio dos chamados homens probos favorece a penetração e vitória das infelizes falcatruas e malversações promovidas pelos aventureiros e maus.
Imperioso fazer convergir para os pontos fulgurantes do dever todos os esforços, não compactuando com os menestréis da perturbação e fomentadores da iniqüidade. Silenciar a autodefesa em prol do ideal representa elevação de espírito, enquanto calar para preservar posições mentirosas traduz desrespeito a si próprio e, em decorrência, agressão ao que supõe acreditar ou afirma seguir.
O cristão omisso é alguém em vias de decomposição emocional, que está em processo de morte sem o perceber.
Desse modo, constrói sempre e convictamente o bem em toda parte, comunicando entusiasmo e otimismo, descobrindo, por fim, que o contágio do amor e da esperança é tão fecundo que, após mimetizar aqueles que nos cercam, retorna com força nova que nos domina e agiganta, conduzindo-nos na direção dos objetivos que defendemos e a que nos afervoramos.


(De “Celeiro de Bênçãos”, de Divaldo P. Franco, pelo espírito Joanna de Ângelis)

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