sexta-feira, 23 de abril de 2010

O ausente-presente

Flowers

 

Era a derradeira refeição que fariam juntos. É um momento de alegria, pela comemoração da páscoa judaica.

Recordam-se das agruras da escravidão no Egito e as alegrias da libertação pelo legislador hebreu Moisés.

Os cânticos se sucedem, em obediência ao rito comemorativo. Serve-se o carneiro, o pão sem sal e sem fermento, embebido no molho de ervas amargas.

Recordam-se das bênçãos e a proteção de Yaweh. É também um momento de despedida.

Um pouco e já não mais me vereis, assevera Jesus. E como bom pastor, exorta: meus filhinhos...

E tece recomendações, dizendo das dores que adviriam aos Seus seguidores, a todos aqueles que desejassem levar o archote da Boa Nova na tentativa de iluminar a Terra.

O machado está posto à raiz, dizia o Mestre.

Mas, se falou de dores e sofrimentos, não deixou de declamar esperança e consolo.

Por isso, em observando o ar de tristeza que envolvia os Apóstolos, naquela hora, profetizou:

Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus. Crede também em mim. Eu vou para vos preparar o lugar.

Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver, também vós aí estejais.

O Pastor anuncia Sua viagem, mas apresenta os objetivos dela e afirma o Seu retorno.

A hora avança e Ele ensina:

Um novo mandamento vos dou: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado. Nisso reconhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.

E sentencia:

Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.

É um momento solene. Os minutos se sucedem ligeiros, como se desejassem que aquela despedida não se alongasse.

Mas o Mestre dos mestres tem algo mais a dizer:

Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Tenho-vos chamado amigos, porque tudo o que sei de meu Pai vos transmiti.

Repito-vos: amai-vos uns aos outros.

E, como num testamento, exterioriza Sua doação final:

Deixo-vos a paz: a minha paz vos dou

Não vo-la dou como o mundo a dá.

Amai-vos como eu vos amei.

Ninguém tem mais amor do que aquele que dá a própria vida pelos seus amigos.

Sereis meus amigos, se fordes amigos uns dos outros.

A noite se envolve em crepe. Talvez a lua tenha escondido sua cara redonda e prateada, para enxugar o próprio pranto.

O Cordeiro vai ser imolado...

* * *

Ele voltaria depois da morte para atestar que a morte não existe.

E quando chega, faz-Se visível àquele grupo de homens assustados, como uma equipe sem chefia e os saúda:

Paz seja convosco!

E ficaria com eles por dias e dias.

Dias de sol, noites de estrelas, de luar.

Pelas estradas da Galiléia e da Judeia, pelas praias do mar e do lago, nas montanhas, onde os pastores apascentam seus carneiros, nas planícies onde os camponeses cortam o trigo, todos sentem que Ele pode estar, que Ele pode vir, de repente e dizer:

“A paz seja convosco!”

Certeza de Sua presença. Amigo, Mestre, Senhor: presente!

Não nos esqueçamos disso.

Redação do Momento Espírita, com base no Evangelho de

João, cap. XIV e com parágrafo colhido no cap. LXXII, do

livro Vida de Jesus, de Plínio Salgado, ed. Voz do oeste.

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