quinta-feira, 31 de julho de 2008

Momento de Reflexão



A Filosofia Espírita e Seus Aspectos Sociais


Escreve:
Ney Paulo de Meira Albach
Em:
maio de 2008



"O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da Humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange o Espiritismo é mais apto que qualquer outra doutrina a secundar o movimento de regeneração; por isso é ele contemporâneo desse movimento (...)" (1)

É aspiração do ser humano a busca do aperfeiçoamento, o qual se realiza progressivamente. A lei do progresso está implícita nas potencialidades do Espírito, que se agita na história e fora dela, para, de ciclo em ciclo de vida, ora no mundo material, ora no mundo espírita, plasmar em si mesmo e no meio onde se encontra os ideais superiores de justiça e de sabedoria.

A Codificação Kardequiana é substancialmente rica de conteúdos que elucidam os processos de transformação que o homem e a sociedade executam na sua trajetória evolutiva.

A Humanidade se desenvolve em inteligência e em moralidade. Embora o progresso intelectual e moral não ocorra no mesmo ritmo e concomitantemente, há uma lei de evolução, implícita na própria consciência do ser, que o impulsiona no sentido do equilíbrio dessas duas potências da alma: a inteligência e a moralidade.

"De duas maneiras se executa esse duplo progresso: uma lenta, gradual e insensível; a outra, caracterizada por mudanças bruscas a cada uma das quais corresponde um movimento ascensional mais rápido, que assinala, mediante impressões bem acentuadas, os períodos progressivos da Humanidade. Esses movimentos, subordinados, quanto às particularidades, ao livre-arbítrio dos homens, são, de certo modo fatais em seu conjunto, porque está sujeito a leis, como os que se verificam na germinação, no crescimento e na maturidade das plantas. Por isso é que o movimento progressivo se efetua; às vezes, de modo parcial, isto é, limitado a uma raça, a uma nação, de outras vezes, de modo geral". (2)

A Doutrina Espírita considera que a Humanidade terrena se avizinha de um período de grande transformação qualitativa, que a colocará nas marcas de uma Era Nova – o Mundo de Regeneração – e cabe ao Espiritismo desempenhar um extraordinário papel nesse processo de promover a Terra na hierarquia dos mundos. Certamente, compete aos espíritas, como indivíduos e como comunidade, exercer uma função efetiva como agentes transformadores nesse contexto de renovação.

Afirmam os Espíritos na questão 627 de O Livro dos Espíritos: "(...) Estamos incumbidos de preparar o reino do bem que Jesus anunciou (...)".

O conteúdo filosófico do Espiritismo e sua tendência progressista seriam elementos de sustentação do movimento de regeneração do planeta. O conhecimento do elemento espiritual que ele faculta, da reencarnação e da imortalidade da alma, sua evolução e das leis que regem esse processo, constitui formidável subsídio para impulsionar a Humanidade nesse sentido.

A explicação dos obstáculos íntimos que impedem o ser de aperfeiçoar-se mais aceleradamente; a elucidação das causas morais e sociais que mantêm o homem e a sociedade em estado de precariedade, faz do Espiritismo o grande instrumento capaz de auxiliar o homem na solução de angustiantes problemas.

Ajusta ele as questões de ordem material com as questões de ordem espiritual, e engendra a possibilidade de uma articulação de ações individuais e coletivas que poderão romper as amarras e as injunções de ordem econômica, política e social e, sustentado nas possibilidades do Espírito imortal, vencer o círculo de gravitação imediatista em que o homem materialista, utilitário e massificado se envolve e estabeleça, então, o clima e as condições adequadas a uma nova situação evolutiva.

Na questão 789 de O Livro dos Espíritos encontramos o seguinte comentário de Allan Kardec: "A Humanidade progride por meio dos indivíduos que pouco a pouco se melhoram e instruem. Quando estes preponderam pelo número, tomam a dianteira e arrastam os outros. De tempos a tempos, surgem no seio dela homens de gênio que lhe dão impulso; vêm depois, como instrumentos de Deus, os que têm autoridade e, nalguns anos, fazem-na adiantar-se de muitos séculos".

No que respeita aos que mantêm o poder de dirigir os destinos de povos e nações, encontramos em Obras Póstumas um estudo de Allan Kardec sobre as aristocracias, no qual, após ele considerar as suas diversas formas ao longo da História, culmina com a aristocracia intelecto-moral, à qual as massas confiarão seus interesses, pois ela apresentará como síntese de suas qualidades a inteligência altamente desenvolvida e a moralidade superior.

Com referência às correntes ideológicas que palpitam no mundo contemporâneo, o Espiritismo mantém-se numa atitude serena e fornece-nos subsídios para uma apreciação sem paixões, mas inabalável na sua postura filosófica, podendo efetivamente influenciar o processo de transformação da Humanidade pelos princípios que o estruturam e pela sustentação racional e científica de suas teses.

Assim, face à inquietação do marxismo, que aplica a dialética materialista para a leitura da História de lutas da Humanidade, com extraordinários apelos às forças de sobrevivência do homem, alienado da religião, o ópio do povo, e vinculado essencialmente aos fatores de produção, na limitação da economia, o Espiritismo desdobra o processo no campo do Espírito, visceralmente imantado à vida, numa realidade interexistencial, e acena à razão humana com a potência dinamizadora da consciência, capaz de sofrer e agir sobre a História, para fazer dela a sua biografia ciclópica, extrapolar às contingências do imediato e projetar-se rumo ao infinito, numa espiral de luz e beleza. Ao mesmo tempo, permite à inteligência, alicerçada num profundo conhecimento da realidade, assumir todas as suas plenas condições, no aqui e agora da existência, reordenar o sistema humano da sociedade e direcionar a sua caminhada para o porvir, com a estrutura ética apaziguada pela gratificação de ter exercido a sua responsabilidade com justiça e liberdade.

A Doutrina Espírita, pelo ensino do Espírito Verdade, pelo labor da inteligência humana na apreciação do farto material de pesquisas que o fato espírita contém, pelos princípios filosóficos e morais que apresenta, pelas implicações gnoseológicas que gera, é suficientemente capaz de retomar as teses mais avançadas das teorias sociológicas, econômicas e políticas e, em se debruçando sobre elas, desdobrá-las para conotações mais abrangentes da realidade do mundo e do ser, inspirando o pensamento humano a delinear a ideologia do Espírito – reordenadora da História.

Destarte, a dialética hegeliana pode descer de sua esfera idealista, quase abstrata, ao campo do possível humano, e renascer aplicada ao elemento diretor do processo da existência – o dinamismo biopsíquico da consciência.

Segundo Hegel, filósofo idealista alemão do início do século 19, os fenômenos materiais não seriam outra coisa senão objetivações da idéia e o mundo subjetivo se desenvolve por uma lei de contradições que se opera através de uma tese, de uma antítese e de uma síntese. "Em princípio, a filosofia hegeliana corresponde ao mesmo processo da filosofia palingenésica do Espiritismo, conforme o próprio Geley admitiu expressamente. Com efeito, para Geley, o Absoluto de Hegel chama-se dinamopsiquismo, o qual evolve do inconsciente ao consciente, de modo que o espírito absoluto do filósofo alemão e o dinamopsiquismo essencial do metapsiquista francês definem uma mesma entidade, e as três fases da dialética hegeliana (tese, antítese e síntese) correspondem, respectivamente, à trilogia do nascer, morrer e renascer". (3)

O Capitalismo, por sua vez, tem sua base no liberalismo econômico, que visa eliminar as dificuldades econômicas e sociais geradas pela intervenção intempestiva do Estado na regulamentação de preços, salários, trocas comercias; para o liberalismo valeria muito mais deixar funcionar os mecanismos econômicos naturais – laissez faire, laissez passer ("deixai fazer, deixai passar"). A economia tende a organizar-se por si mesma, para o bem de todos. O preço natural de um objeto é seu preço de custo mais uma justa margem beneficiária. O preço de mercado de um objeto depende da lei de oferta e da procura. Assim, se um produto é raro, a procura ultrapassa a oferta e o preço de mercado se eleva acima do preço natural; se um produto é muito abundante, acontece o contrário. Os salários dos operários estão submetidos a um regime natural análogo: se eles são muito baixos em determinada profissão, não se encontram mais candidatos para ela e toma-se necessária a elevação dos salários; se eles aumentam anormalmente, um grande número de operários concorre para ser engajado e isso faz baixar o salário. O papel do Estado, na teoria do liberalismo econômico, é proteger a propriedade privada e isto seria uma garantia de prosperidade para todos os membros da coletividade. A propriedade privada não seria, conforme este sistema, somente útil socialmente, mas moralmente legítima. O liberalismo econômico triunfa no século 19 quando surge a filosofia do capitalismo industrial, o qual se define como a propriedade privada dos meios de produção, matéria discutida em diversas teorias econômicas. A propriedade privada dos bens de consumo praticamente não é contestada. (4)

A Doutrina Espírita considera que o uso dos bens da terra é um direito de todos os homens; direito este conseqüente da necessidade de viver e que o monopólio desses bens para satisfazer à ganância e ao individualismo é contrário à lei natural. Ensina que a propriedade deve ser legítima, oriunda do trabalho e sem prejuízo de alguém e alerta para a aquisição de bens de modo coletivo-familiar, como a colméia.

Elucida a Filosofia Espírita que a brutal discriminação das classes sociais existentes nas sociedades humanas não se harmoniza com a lei divina ou natural, e não há como se basear nos seus ensinamentos para querer justificar a injustiça social. Que a miséria, a subnutrição, a delinqüência por desestruturação das funções vitais da criatura humana, são resultantes da imperfeição da sociedade e não de uma lei divina.

Quanto ao trabalho, segundo o Espiritismo, ele deve ser um meio de aperfeiçoar a inteligência e de dignidade social e psicológica do homem e, ainda, constituir-se num elemento de bem-estar pela adequação do trabalho às aptidões individuais. Coloca a educação e a ética social como recursos de equilíbrio da economia, neutralizando assim, moralmente, de uma forma preventiva, os efeitos danosos dos momentos de crise entre produção e consumo. Faz ainda a conotação do trabalho como forma de ajustamento psicológico do indivíduo pelo exercício de sua verdadeira vocação.

O Espiritismo não admite que o operário seja considerado uma máquina de produção e explorado como tal. Levanta, ao contrário, a dignidade da pessoa humana e a observação das questões de saúde e lazer, bem como a do equilíbrio entre trabalho e repouso, em obediência às leis naturais.

Outro capítulo sumamente importante na visão social e moral da Doutrina Espírita é a questão da educação. Neste particular ela poderá contribuir extraordinariamente para o aperfeiçoamento das metodologias e dos sistemas educacionais, desde a abordagem psicológico-espiritual do educando até os aspectos de política educacional de uma nação. Considera o Espiritismo que é preciso reformar o homem reformando as instituições que mantém e excitam as imperfeições humanas, geradoras de desequilíbrio e infelicidade.

Destacamos, ainda, que a terceira parte de O Livro dos Espíritos bem como capítulos correlatos de A Gênese, Obras Póstumas, de O Evangelho Segundo o Espiritismo e inúmeros artigos dos diversos volumes da Revista Espírita, poderão ser compulsados, através de um estudo comparado, como subsídios para o enfoque doutrinário de todos os temas relacionados com a sociologia, a política e a economia.

Doutrina de caráter abrangente, com sentido de síntese, o Espiritismo tem a ver com todas as questões de ordem social e da metafísica, já afirmava o Codificador.

Em O Livro dos Médiuns, cap. III, nº 18, afirmava ele: "O Espiritismo, também já o dissemos, entende com todas as questões que interessam à humanidade; tem imenso campo, e o que principalmente convém é encará-lo pelas suas conseqüências". E na Revista Espírita, dezembro/1863, ao fazer a abordagem do Período de Luta, Allan Kardec estabelece uma reflexão sobre os períodos de desenvolvimento das idéias espíritas, encadeados logicamente e, segundo esse pensamento, o Espiritismo passou da fase das mesas girantes, período de curiosidade, para o período filosófico, marcado pelo lançamento de O Livro dos Espíritos, em 1857. O período de luta seguiu-se-lhe marcado pelo Auto-de-Fé de Barcelona, em 1860. O quarto período seria o religioso; o quinto, período intermediário, conseqüência natural do precedente, que teria oportunamente uma denominação própria e, finalmente, o sexto, o período social, que abriria a era do século 20.

Tinha, pois, o Codificador do Espiritismo, a antevisão das conseqüências e aplicações da Doutrina Espírita no processo social. Vislumbrava ele a sua ação viva como instrumento realmente útil às sociedades e não simplesmente torná-la uma bela corrente de pensamento tipo alienante de ordem espiritualista. Entendeu que ela se introduziria no corpo ciclópico da transformação da Humanidade e cumpriria o seu papel histórico como fator de progresso do planeta com vistas ao Reino do Bem anunciado por Jesus, na mensagem do Espírito de Verdade. Pensava, inclusive, conforme se deduz de suas previsões, que já no início do século 20 o Espiritismo passaria a marcar presença na dimensão social almejada, o que infelizmente não ocorreu.

Daí, concluímos da necessidade de uma retomada e de um aprofundamento dos espíritas nesse plano de cogitações e ações, para que as conseqüências e aplicações sócio-políticas do Espiritismo possam refletir-se na Era Nova como elementos ordenadores da transformação intelecto-moral da Humanidade e atinjamos um dia, pela ação consciente e espiritualizada, a vivência plena, nos códigos e na conduta, da Lei de Justiça, Amor e Caridade.

O estudo da Filosofia Espírita nos seus aspectos sociais constitui-se num projeto indispensável e intransferível no momento histórico que atravessamos, como necessidade de justificativa e de demonstração do papel e da função do Espiritismo no processo de transformação da Humanidade.

Através desse programa, o conjunto da comunidade espírita poderia alinhar-se aos movimentos e às forças que atuam positivamente no ciclópico afã de melhoramento qualitativo das sociedades humanas. Sem embargo do valor dessas diversas formas de correntes de pensamento e ação, tem o conjunto filosófico espírita conteúdos e concepções que poderão colocá-lo na vanguarda como possibilidade de transformação do homem e da sociedade, com projeções marcantes sobre a civilização.

Notas

(1) KARDEC, Allan, A Gênese, cap. XVIII, pág. 417, 18a ed. (Popular), FEB.
(2) Idem Ob. cit., cap. XVIII, pág. 402.
(3) NETTO, Jacob Holzmann, Espiritismo e Marxismo, pág. 16, Edições A Fagulha, 1970.
(4) HUISMAN, Denis e VERGEZ, André, Compêndio Moderno de Filosofia, vol. I, A Ação, (reprodução), págs. 305/6, 4S. Edição, Biblioteca Universitária Freitas Bastos.

Texto publicado nos Anais do 7º Congresso Espírita Estadual, promovido pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE), de 22 a 24 de agosto de 1986, em Águas de São Pedro-SP. O evento teve como tema central O Espiritismo no Século 20. Os anais foram lançados pela USE somente em março de 1997.

Ney Paulo de Meira Albach é paranaense, pedagogo, conferencista e um dos autores do COEM – Centro de Orientação e Educação Mediúnica.
"O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da Humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange o Espiritismo é mais apto que qualquer outra doutrina a secundar o movimento de regeneração; por isso é ele contemporâneo desse movimento (...)" (1)

É aspiração do ser humano a busca do aperfeiçoamento, o qual se realiza progressivamente. A lei do progresso está implícita nas potencialidades do Espírito, que se agita na história e fora dela, para, de ciclo em ciclo de vida, ora no mundo material, ora no mundo espírita, plasmar em si mesmo e no meio onde se encontra os ideais superiores de justiça e de sabedoria.

A Codificação Kardequiana é substancialmente rica de conteúdos que elucidam os processos de transformação que o homem e a sociedade executam na sua trajetória evolutiva.

A Humanidade se desenvolve em inteligência e em moralidade. Embora o progresso intelectual e moral não ocorra no mesmo ritmo e concomitantemente, há uma lei de evolução, implícita na própria consciência do ser, que o impulsiona no sentido do equilíbrio dessas duas potências da alma: a inteligência e a moralidade.

"De duas maneiras se executa esse duplo progresso: uma lenta, gradual e insensível; a outra, caracterizada por mudanças bruscas a cada uma das quais corresponde um movimento ascensional mais rápido, que assinala, mediante impressões bem acentuadas, os períodos progressivos da Humanidade. Esses movimentos, subordinados, quanto às particularidades, ao livre-arbítrio dos homens, são, de certo modo fatais em seu conjunto, porque está sujeito a leis, como os que se verificam na germinação, no crescimento e na maturidade das plantas. Por isso é que o movimento progressivo se efetua; às vezes, de modo parcial, isto é, limitado a uma raça, a uma nação, de outras vezes, de modo geral". (2)

A Doutrina Espírita considera que a Humanidade terrena se avizinha de um período de grande transformação qualitativa, que a colocará nas marcas de uma Era Nova – o Mundo de Regeneração – e cabe ao Espiritismo desempenhar um extraordinário papel nesse processo de promover a Terra na hierarquia dos mundos. Certamente, compete aos espíritas, como indivíduos e como comunidade, exercer uma função efetiva como agentes transformadores nesse contexto de renovação.

Afirmam os Espíritos na questão 627 de O Livro dos Espíritos: "(...) Estamos incumbidos de preparar o reino do bem que Jesus anunciou (...)".

O conteúdo filosófico do Espiritismo e sua tendência progressista seriam elementos de sustentação do movimento de regeneração do planeta. O conhecimento do elemento espiritual que ele faculta, da reencarnação e da imortalidade da alma, sua evolução e das leis que regem esse processo, constitui formidável subsídio para impulsionar a Humanidade nesse sentido.

A explicação dos obstáculos íntimos que impedem o ser de aperfeiçoar-se mais aceleradamente; a elucidação das causas morais e sociais que mantêm o homem e a sociedade em estado de precariedade, faz do Espiritismo o grande instrumento capaz de auxiliar o homem na solução de angustiantes problemas.

Ajusta ele as questões de ordem material com as questões de ordem espiritual, e engendra a possibilidade de uma articulação de ações individuais e coletivas que poderão romper as amarras e as injunções de ordem econômica, política e social e, sustentado nas possibilidades do Espírito imortal, vencer o círculo de gravitação imediatista em que o homem materialista, utilitário e massificado se envolve e estabeleça, então, o clima e as condições adequadas a uma nova situação evolutiva.

Na questão 789 de O Livro dos Espíritos encontramos o seguinte comentário de Allan Kardec: "A Humanidade progride por meio dos indivíduos que pouco a pouco se melhoram e instruem. Quando estes preponderam pelo número, tomam a dianteira e arrastam os outros. De tempos a tempos, surgem no seio dela homens de gênio que lhe dão impulso; vêm depois, como instrumentos de Deus, os que têm autoridade e, nalguns anos, fazem-na adiantar-se de muitos séculos".

No que respeita aos que mantêm o poder de dirigir os destinos de povos e nações, encontramos em Obras Póstumas um estudo de Allan Kardec sobre as aristocracias, no qual, após ele considerar as suas diversas formas ao longo da História, culmina com a aristocracia intelecto-moral, à qual as massas confiarão seus interesses, pois ela apresentará como síntese de suas qualidades a inteligência altamente desenvolvida e a moralidade superior.

Com referência às correntes ideológicas que palpitam no mundo contemporâneo, o Espiritismo mantém-se numa atitude serena e fornece-nos subsídios para uma apreciação sem paixões, mas inabalável na sua postura filosófica, podendo efetivamente influenciar o processo de transformação da Humanidade pelos princípios que o estruturam e pela sustentação racional e científica de suas teses.

Assim, face à inquietação do marxismo, que aplica a dialética materialista para a leitura da História de lutas da Humanidade, com extraordinários apelos às forças de sobrevivência do homem, alienado da religião, o ópio do povo, e vinculado essencialmente aos fatores de produção, na limitação da economia, o Espiritismo desdobra o processo no campo do Espírito, visceralmente imantado à vida, numa realidade interexistencial, e acena à razão humana com a potência dinamizadora da consciência, capaz de sofrer e agir sobre a História, para fazer dela a sua biografia ciclópica, extrapolar às contingências do imediato e projetar-se rumo ao infinito, numa espiral de luz e beleza. Ao mesmo tempo, permite à inteligência, alicerçada num profundo conhecimento da realidade, assumir todas as suas plenas condições, no aqui e agora da existência, reordenar o sistema humano da sociedade e direcionar a sua caminhada para o porvir, com a estrutura ética apaziguada pela gratificação de ter exercido a sua responsabilidade com justiça e liberdade.

A Doutrina Espírita, pelo ensino do Espírito Verdade, pelo labor da inteligência humana na apreciação do farto material de pesquisas que o fato espírita contém, pelos princípios filosóficos e morais que apresenta, pelas implicações gnoseológicas que gera, é suficientemente capaz de retomar as teses mais avançadas das teorias sociológicas, econômicas e políticas e, em se debruçando sobre elas, desdobrá-las para conotações mais abrangentes da realidade do mundo e do ser, inspirando o pensamento humano a delinear a ideologia do Espírito – reordenadora da História.

Destarte, a dialética hegeliana pode descer de sua esfera idealista, quase abstrata, ao campo do possível humano, e renascer aplicada ao elemento diretor do processo da existência – o dinamismo biopsíquico da consciência.

Segundo Hegel, filósofo idealista alemão do início do século 19, os fenômenos materiais não seriam outra coisa senão objetivações da idéia e o mundo subjetivo se desenvolve por uma lei de contradições que se opera através de uma tese, de uma antítese e de uma síntese. "Em princípio, a filosofia hegeliana corresponde ao mesmo processo da filosofia palingenésica do Espiritismo, conforme o próprio Geley admitiu expressamente. Com efeito, para Geley, o Absoluto de Hegel chama-se dinamopsiquismo, o qual evolve do inconsciente ao consciente, de modo que o espírito absoluto do filósofo alemão e o dinamopsiquismo essencial do metapsiquista francês definem uma mesma entidade, e as três fases da dialética hegeliana (tese, antítese e síntese) correspondem, respectivamente, à trilogia do nascer, morrer e renascer". (3)

O Capitalismo, por sua vez, tem sua base no liberalismo econômico, que visa eliminar as dificuldades econômicas e sociais geradas pela intervenção intempestiva do Estado na regulamentação de preços, salários, trocas comercias; para o liberalismo valeria muito mais deixar funcionar os mecanismos econômicos naturais – laissez faire, laissez passer ("deixai fazer, deixai passar"). A economia tende a organizar-se por si mesma, para o bem de todos. O preço natural de um objeto é seu preço de custo mais uma justa margem beneficiária. O preço de mercado de um objeto depende da lei de oferta e da procura. Assim, se um produto é raro, a procura ultrapassa a oferta e o preço de mercado se eleva acima do preço natural; se um produto é muito abundante, acontece o contrário. Os salários dos operários estão submetidos a um regime natural análogo: se eles são muito baixos em determinada profissão, não se encontram mais candidatos para ela e toma-se necessária a elevação dos salários; se eles aumentam anormalmente, um grande número de operários concorre para ser engajado e isso faz baixar o salário. O papel do Estado, na teoria do liberalismo econômico, é proteger a propriedade privada e isto seria uma garantia de prosperidade para todos os membros da coletividade. A propriedade privada não seria, conforme este sistema, somente útil socialmente, mas moralmente legítima. O liberalismo econômico triunfa no século 19 quando surge a filosofia do capitalismo industrial, o qual se define como a propriedade privada dos meios de produção, matéria discutida em diversas teorias econômicas. A propriedade privada dos bens de consumo praticamente não é contestada. (4)

A Doutrina Espírita considera que o uso dos bens da terra é um direito de todos os homens; direito este conseqüente da necessidade de viver e que o monopólio desses bens para satisfazer à ganância e ao individualismo é contrário à lei natural. Ensina que a propriedade deve ser legítima, oriunda do trabalho e sem prejuízo de alguém e alerta para a aquisição de bens de modo coletivo-familiar, como a colméia.

Elucida a Filosofia Espírita que a brutal discriminação das classes sociais existentes nas sociedades humanas não se harmoniza com a lei divina ou natural, e não há como se basear nos seus ensinamentos para querer justificar a injustiça social. Que a miséria, a subnutrição, a delinqüência por desestruturação das funções vitais da criatura humana, são resultantes da imperfeição da sociedade e não de uma lei divina.

Quanto ao trabalho, segundo o Espiritismo, ele deve ser um meio de aperfeiçoar a inteligência e de dignidade social e psicológica do homem e, ainda, constituir-se num elemento de bem-estar pela adequação do trabalho às aptidões individuais. Coloca a educação e a ética social como recursos de equilíbrio da economia, neutralizando assim, moralmente, de uma forma preventiva, os efeitos danosos dos momentos de crise entre produção e consumo. Faz ainda a conotação do trabalho como forma de ajustamento psicológico do indivíduo pelo exercício de sua verdadeira vocação.

O Espiritismo não admite que o operário seja considerado uma máquina de produção e explorado como tal. Levanta, ao contrário, a dignidade da pessoa humana e a observação das questões de saúde e lazer, bem como a do equilíbrio entre trabalho e repouso, em obediência às leis naturais.

Outro capítulo sumamente importante na visão social e moral da Doutrina Espírita é a questão da educação. Neste particular ela poderá contribuir extraordinariamente para o aperfeiçoamento das metodologias e dos sistemas educacionais, desde a abordagem psicológico-espiritual do educando até os aspectos de política educacional de uma nação. Considera o Espiritismo que é preciso reformar o homem reformando as instituições que mantém e excitam as imperfeições humanas, geradoras de desequilíbrio e infelicidade.

Destacamos, ainda, que a terceira parte de O Livro dos Espíritos bem como capítulos correlatos de A Gênese, Obras Póstumas, de O Evangelho Segundo o Espiritismo e inúmeros artigos dos diversos volumes da Revista Espírita, poderão ser compulsados, através de um estudo comparado, como subsídios para o enfoque doutrinário de todos os temas relacionados com a sociologia, a política e a economia.

Doutrina de caráter abrangente, com sentido de síntese, o Espiritismo tem a ver com todas as questões de ordem social e da metafísica, já afirmava o Codificador.

Em O Livro dos Médiuns, cap. III, nº 18, afirmava ele: "O Espiritismo, também já o dissemos, entende com todas as questões que interessam à humanidade; tem imenso campo, e o que principalmente convém é encará-lo pelas suas conseqüências". E na Revista Espírita, dezembro/1863, ao fazer a abordagem do Período de Luta, Allan Kardec estabelece uma reflexão sobre os períodos de desenvolvimento das idéias espíritas, encadeados logicamente e, segundo esse pensamento, o Espiritismo passou da fase das mesas girantes, período de curiosidade, para o período filosófico, marcado pelo lançamento de O Livro dos Espíritos, em 1857. O período de luta seguiu-se-lhe marcado pelo Auto-de-Fé de Barcelona, em 1860. O quarto período seria o religioso; o quinto, período intermediário, conseqüência natural do precedente, que teria oportunamente uma denominação própria e, finalmente, o sexto, o período social, que abriria a era do século 20.

Tinha, pois, o Codificador do Espiritismo, a antevisão das conseqüências e aplicações da Doutrina Espírita no processo social. Vislumbrava ele a sua ação viva como instrumento realmente útil às sociedades e não simplesmente torná-la uma bela corrente de pensamento tipo alienante de ordem espiritualista. Entendeu que ela se introduziria no corpo ciclópico da transformação da Humanidade e cumpriria o seu papel histórico como fator de progresso do planeta com vistas ao Reino do Bem anunciado por Jesus, na mensagem do Espírito de Verdade. Pensava, inclusive, conforme se deduz de suas previsões, que já no início do século 20 o Espiritismo passaria a marcar presença na dimensão social almejada, o que infelizmente não ocorreu.

Daí, concluímos da necessidade de uma retomada e de um aprofundamento dos espíritas nesse plano de cogitações e ações, para que as conseqüências e aplicações sócio-políticas do Espiritismo possam refletir-se na Era Nova como elementos ordenadores da transformação intelecto-moral da Humanidade e atinjamos um dia, pela ação consciente e espiritualizada, a vivência plena, nos códigos e na conduta, da Lei de Justiça, Amor e Caridade.

O estudo da Filosofia Espírita nos seus aspectos sociais constitui-se num projeto indispensável e intransferível no momento histórico que atravessamos, como necessidade de justificativa e de demonstração do papel e da função do Espiritismo no processo de transformação da Humanidade.

Através desse programa, o conjunto da comunidade espírita poderia alinhar-se aos movimentos e às forças que atuam positivamente no ciclópico afã de melhoramento qualitativo das sociedades humanas. Sem embargo do valor dessas diversas formas de correntes de pensamento e ação, tem o conjunto filosófico espírita conteúdos e concepções que poderão colocá-lo na vanguarda como possibilidade de transformação do homem e da sociedade, com projeções marcantes sobre a civilização.


Notas

(1) KARDEC, Allan, A Gênese, cap. XVIII, pág. 417, 18a ed. (Popular), FEB.
(2) Idem Ob. cit., cap. XVIII, pág. 402.
(3) NETTO, Jacob Holzmann, Espiritismo e Marxismo, pág. 16, Edições A Fagulha, 1970.
(4) HUISMAN, Denis e VERGEZ, André, Compêndio Moderno de Filosofia, vol. I, A Ação, (reprodução), págs. 305/6, 4S. Edição, Biblioteca Universitária Freitas Bastos.

Texto publicado nos Anais do 7º Congresso Espírita Estadual, promovido pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE), de 22 a 24 de agosto de 1986, em Águas de São Pedro-SP. O evento teve como tema central O Espiritismo no Século 20. Os anais foram lançados pela USE somente em março de 1997.

Ney Paulo de Meira Albach é paranaense, pedagogo, conferencista e um dos autores do COEM – Centro de Orientação e Educação Mediúnica
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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Enfermos da Alma

 

"...Não são os que gozam saúde que precisam de médico. - Jesus.. (Mateus, 9:12)."


Aqui e ali encontramos inúmeros doentes que se candidatam ao auxílio da ciência médica, mas em toda parte, igualmente, existem aqueles outros, portadores de moléstias da alma, para os quais há que se fazer o socorro do espírito.
E nem sempre semelhantes necessitados são os viciados e os malfeitores, que se definem de imediato por enfermos de ordem moral, quando aparecem.
Vemos outros muitos para os quais é preciso descobrir o remédio justo e, às vezes, difícil, de vez que se intoxicaram no próprio excesso das atitudes respeitáveis em que desfiguraram os sentimentos, tais como sejam:
.. os extremistas da corrigenda, tão apaixonados pelos processos punitivos que se perturbam na dureza de coração pela ausência de misericórdia;
.. os extremistas da gentileza, tão interessados em agradar que descambam, um dia, para as deficiências da invigilância;
.. os extremistas da independência, tão ciosos da própria emancipação que fogem ao dever, caindo nos desequilíbrios da licenciosidade;
.. os extremistas da poupança, tão receosos de perder alguns centavos que acabam transformando o dinheiro, instrumento do bem e do progresso, na paralisia da avareza em que se lhes arrasa a alegria de viver.
Há doentes do corpo e doentes da alma.
É forçoso não esquecer isso, porque todos eles são credores de entendimento e bondade, amparo e restauração.
Diante de quem quer que seja, em posição menos digna perante as leis de harmonia que governam a Vida e o Universo, recordemos as palavras do Cristo: não são os que gozam saúde que precisam de médico.

Livro: Benção de Paz
Emmanuel / Francisco Cândido Xavier

 

terça-feira, 29 de julho de 2008

O GRANDE DOADOR

 

Ele não era médico e levantou paralíticos e restaurou leprosos, usando o divino poder do amor.
Não era advogado e elegeu-se o supremo defensor de todos os injustiçados do mundo.
Não possuía fazendas e estabeleceu novo reino na Terra.
Não improvisava festas e consolou os tristes e reergueu o bom ânimo das almas desesperadas.
Não era professor consagrado e fez se o Mestre da Evolução e do Aprimoramento da Humanidade.
Não era Doutor da Lei e criou a universidade sublime do bem para todos os espíritos de boa vontade.
Padecendo amarguras - reconfortou a muitos.
Tolerando aflições - semeou a fé e a coragem.
Ferido - curou as chagas morais do povo.
Supliciado - expediu a mensagem do perdão e do amor, em todas as direções.
Esquecido pelos mais amados - ensinou a fraternidade e o reconhecimento.
Vencido na cruz – revelou a vitória da vida eterna, em plena e gloriosa ressurreição, renovando os destinos das nações e santificando o caminho dos povos.
Ele não era, portanto, rico e engrandeceu os celeiros dos séculos.
Quem oferecer, assim, o coração, em homenagem ao Divino Amor na Terra, poderá, desse modo, no exemplo de Jesus, embora anônimo, aflito, apagado ou crucificado, atender à santificada colaboração com Deus, a benefício da Humanidade.

   (Obra: Antologia Mediúnica do Natal - Chico Xavier/André Luiz)
******
Você vive no mundo em meio de provas e lutas, desafios e necessidades, ao modo de aluno entre as lições de que precisa na escola, em favor do próprio aproveitamento; aprenda a suportar os convites ao bem dos outros e você ganhará os melhores valores da resistência.

    (Obra: Respostas da Vida - Chico Xavier/André Luiz)
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AVE MARIA

Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus.
Santa Maria, Mãe de Jesus, rogai por nós, pecadorres, agora e na hora de nossa morte. Amém.

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PAI NOSSO

Pai nosso que estais no Céu, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.

JESUS

*Recebi esta mensagem (em email)  do grupo "Usuários".

Lista de usuários (aberta)
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http://lists.espiritismo.net/mailman/listinfo/espiritismonet-usuarios-l

domingo, 27 de julho de 2008

A Divulgação Espírita

André Luiz (espírito)

 

Há companheiros que se dizem contrários à divulgação espírita.

Julgam vaidade o propósito de se lhe exaltar os méritos e agradecer os benefícios nas iniciativas de caráter público

Para eles, o Espiritismo fala por si e caminhará por si.

Estão certos nessa convicção mas isto não nos invalida o dever de colaborar na extensão do conhecimento espírita para com o devotamento que a boa semente merece do lavrador.

O ensino exige recintos para o magistério.

O Espiritismo deve ser apresentado por seus profitentes em sessões públicas.

A cultura reclama publicações.

O Espiritismo tem a sua alavanca de expansão no livro que lhe expõe os postulados.

A arte pede representações.

O Espiritismo não dispensa as obras que lhe exponham a grandeza.

A indústria requisita produção que lhe demonstre o valor.

O Espiritismo possui a sua maior força nas realizações e no exemplo dos seus seguidores, em cujo rendimento para o bem comum se lhe define a excelência.

Não podemos relaxar a educação espírita, desprezando os instrumentos da divulgação de que dispomos a fim de estendê-la e honorificá-la.

Allan Kardec começou o trabalho doutrinário publicando as obras da Codificação e instituindo uma sociedade promotora de reuniões e palestras públicas, uma revista e uma livraria para a difusão inicial da Revelação Nova.

Mas não é só.

Que Jesus estimou a publicidade, não para si mesmo, mas para o Evangelho, é afirmação que não sofre dúvida.

Para isso, encetou a sua obra aliciando doze agentes respeitáveis para lhe veicularem os ensinamentos e ele próprio fundou o cristianismo através de assembléias públicas.

O "ide e pregai" nasceu-lhe da palavra recamada de luz.

E compreendendo que a Boa Nova estava ameaçada pela influência judaizante, em vista da comunidade apostólica confirmar-se de modo extremo aos preceitos do Velho Testamento, após regressar às Esferas Superiores, comunicou-se numa estrada vulgar, chamando Paulo de Tarso para publicar-lhe os princípios junto a gentilidade a que Jerusalém jamais se abria.

Visto isso, não sabemos como estar no Espiritismo sem falar nele ou, em outras palavras, se quisermos preservar o Espiritismo e renovar-lhe as energias a benefício do mundo, é necessário compreender-lhe as finalidades de escola e toda escola para cumprir o seu papel precisa divulgar.

Psicografia de WALDO VIEIRA, do livro OPINIÃO ESPÍRITA, edição CEC - COMUNHÃO ESPÍRITA CRISTÃ, de Uberaba,  Minas Gerais, em 1963.

ESPIRITISMO de Kardec aos dias de hoje

 

Vídeo extraído do DVD: "O ESPIRITISMO de Kardec aos dias de hoje" lançado em comemoração ao Bicentenário de Nascimento de Allan Kardec (1804-2004), o Codificador do Espiritismo, iniciativa da Federação Espírita Brasileira (FEB), em parceria com a Versátil Home. O filme traz uma visão geral sobre os preceitos básicos da Doutrina Espírita e sua contribuição para o progresso e a felicidade do ser humano. Abrangendo desde as obras que compõe a Codificação do Espiritismo por Allan Kardec ao Movimento Espírita da actualidade, o presente filme é uma excelente introdução à Filosofia e à Ciência Espírita.

Elenco: Ednei Giovenazzi
Narração: Aracy Balabanian
Director: Marcelo Taranto
Duração: 52 min
http://www.febnet.org.br

Maiores informações:  http://www.dvdversatil.com.br/vejamais.aspx?id=264

1ª Parte:

 

2ª Parte

 

3ª Parte

 

4ª Parte

 

5ª Parte

 

6ª e Ultima Parte

 

Ao navegar no Youtube em busca de videos do programa Pinga Fogo, encontrei estes videos sobre a Doutrina Espírita. Resolvi colocar no blog por acreditar que este video seja esclarecedor para a grande massa que não sabe o que é o verdadeiro Espiritismo.

Pinga Fogo - Chico Xavier - Evolução em Dois Mundos

 

Pinga Fogo 1971

Chico Xavier responde a pergunta de como foi possivel escrever "Evolução em Dois Mundos" por dois médiuns em locais diferentes.

VONTADE DE AGIR.

 

Construir é importante.

Construir laços afetuosos, bondosos, a felicidade,

a alegria, o bem, a esperança. Você pode.

Supere o espírito de derrocada, de desânimo ou de impaciência.

Não permita que desequilíbrios imperem em você.

Pense com firmeza, com ânimo, querendo ir para a frente.

E, se cair em desfalecimento, utilize-se das forças que

Deus lhe deu para erguer e prosseguir vivendo.

Mantenha a vontade de agir, de ser feliz

e de ajudar na felicidade dos outros.

É feliz o coração de quem se dispõe a ser útil.

Lourival Lopes

Extraído de "Caminho Seguro"

Com Chico Xavier

 

"JESUS ensinou em barcos emprestados, ensinou em bancos públicos, nas praças em que comparecia, nos montes, nos lares de companheiros... O Evangelho nos relata que, muitas vezes, ELE ensinou na casa de Pedro, isto é, na casa de Pedro, por empréstimo... A única propriedade do CRISTO foi a cruz - a cruz de CRISTO foi a única propriedade de que ELE foi  único dono. Não se fala de uma casa do CRISTO, de um território do CRISTO, mas a cruz do CRISTO é muito recordada..."

        (Obra: O Evangelho de Chico Xavier - Carlos A.Baccelli)

terça-feira, 22 de julho de 2008

GRATIDÃO

 

Esta é uma situação de encantamento.
É um momento de amor e de magia.
Mostra a intensidade de sentimento.
Põe-nos em situação de alegria.


Alegria de poder reencontrar
E, de poder sentir bem de perto
Pessoas, que um dia logramos amar
E cujo amor por nós foi tão certo.


Um amor real e venturoso,
Que as belezas do mundo nos mostrou
Por nos cercar de um carinho amoroso,
Por tanto nos amar como nos amou.


Amor que um mundo melhor nos fez ver
E, que nos mostrou a realidade
De conseguir aproximar do poder
E, se permitir Ter a felicidade.

 

Maria Dolores 18/06/96

Ebook "200 Poemas Espíritas - Vários Autores"

REFLEXÃO

 

Oh! Meu grande e bom Pai das alturas,
Fazei-me melhor o mundo entender,
Que eu bem saiba suportar as agruras,
Que eu saiba realmente bem viver.


Oh! meu Pai de amor misericordioso,
Ajudai-me neste meu caminhar,
Que não seja um caminho pedregoso
A trilha a qual eu devo palmilhar.


Oh! Pai que tanto carinho irradia,
Tanta luz, tanta paz tanta alegria
Neste mundo que para nós criou.


Mundo onde até o amor se eternizou
Naqueles, que puro têm o coração
E que sabem valorizar a oração.

Maria Angélica 23/01/96

E-book "200 Poemas Espíritas - Vários Autores"

terça-feira, 15 de julho de 2008

Pinga Fogo (1971) - Reencarnação

 

1ºParte:

 

2ºParte:

 

Pergunta a Chico Xavier com relacao a 'Adao e Eva' e reencarnação. Exibido no programa Pinga fogo em 1971 na TV Tupi.

Pinga Fogo - Chico Xavier - Transcomunicação Instrumental

 

 

Entrevista com Chico Xavier no programa Pinga Fogo na TV Tupi em 1972 no momento que o celebre Eng. Hernani Guimarães Andrade pergunta sobre a Transcomunicação Intrumental.

domingo, 13 de julho de 2008

O Amor e suas Dimensões

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução 2. Conceito de Amor: 2.1. Vocábulo Polissêmico; 2.2. Algumas Aproximações. 3. Histórico. 4. O Amor Egoísta: 4. 1. A Revolução da Violência; 4.2. Sexo, Sexualidade e meios de comunicação; 4.3. Uma Questão sem Resposta; 4.4. Festim de Tiros. 5. Amor Racional: 5.1. A Maiêutica Socrática; 5.2. Ghandi e a Política da Não-Violência; 5.3. Martir Luter king. 6. Amor de doação: 6.1. Jesus Cristo é o Modelo do Amor; 6.2. Santo Agostinho; 6.3. O Amor Segundo o Espiritismo. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é retratar as várias nuances que a palavra amor enfoca, desde as formas mais rudimentares até àquelas mais espiritualizadas em que o Espírito se sacrifica para auxiliar os outros.

2. CONCEITO DE AMOR

2.1. VOCÁBULO POLISSÊMICO

"Rigorosamente, não é possível dar uma definição do amor. Amor é um vocábulo polissêmico, senhor de uma vastíssima escala de genitivos e também senhor de nominativos vários, chegando a incluir no próprio espaço, segundo a mensagem bíblica, a própria transcendência absoluta: "Deus é amor" (I João I, 18). De fato, são tantas as dimensões, tantos os matizes, tantos os elementos da incidência de vários fatores uns sobre os outros que uma real delimitação conceptual se torna, na prática, impossível. Consegue-se quando muito aproximações." (Enciclopédia Polis)

2.2. ALGUMAS APROXIMAÇÕES

"O amor é uma força primitiva do espírito, avaliadora e criadora de valores, intensiva, capaz de atingir os graus mais variados. É sempre a revelação de uma afirmação da vontade dirigida a um valor reconhecido como tal e apetecido. O amor valora o valor e o valoriza, porque, o que é apetecido, é portador de valor para o amante." (Santos, 1965)

Amor é "a totalidade dos sentimentos e desejos que estruturam o pensamento para a liberação de energia e de forças que guiam a ação na produção do bem e possibilitam a aquisição de qualidades, constituintes do crescimento do Espírito". (Curti, 1981, p.81)

Amor – É uma força tendente a aproximar e a unir, numa relação particular, dois ou mais seres.

3. HISTÓRICO

A história da cultura ocidental apresenta duas raízes: a grega e a judeo-cristã ou bíblica.

A concepção grega está assentada no Eros platônico. Eros começa por ser pobre. Mas, sumamente engenhoso e ativo, ele encontra sempre meio de transcender e de se transcender até atingir o mundo das idéias, designadamente o belo, o verdadeiro e o bem. Ascende "gerando beleza". Ascende, deixando atrás de si – e abaixo de si – um mundo de troféus e de despojos, de aspirações satisfeitas e de imperfeições superadas, de aparências e de ilusões que foram dando progressivamente lugar a realidades autênticas e a formas e idéias verdadeiras.

A concepção grega baseia-se: 1) o mundo é eterno e não criado; 2) que o amar implica em conhecer e o conhecer implica o amar.

A concepção judeo-cristã não partirá nem do mundo nem do homem. Partirá de Deus, Transcendência absoluta. Ele próprio relação amorosa, em si, por si e para si, e que, sendo livre, também por Amor cria para fora de si uma realidade – o Mundo. O amor humano, fundado no amor divino, será pluridirecional e pluridimensional, será ativo e será histórico, será concreto e terá na imitação do próprio Deus, designadamente através de Cristo - imitatio Christi - o seu grande motor.

Do entrelaçamento das duas concepções – helênica e judeo-cristã – é feita a história do amor no Ocidente até os nossos dias, pelos menos, até aos chamados "tempos modernos", com o predomínio ora de uma ora de outra segundo as condições sócioculturais das épocas respectivas. (Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado)

4. O AMOR EGOÍSTA

4.1. A REVOLUÇÃO DA VIOLÊNCIA

Há um amor de posse, disseminado na sociedade, que se traduz pela violência dos dias atuais. E isto é estimulado pelas nações mais ricas e poderosas, principalmente os Estados Unidos da América.

As guerras promovidas por esta nação tinham por objetivo libertar o povo de seus líderes autoritários, mas sempre pela violência. Recentemente, o mundo todo assistiu, atônito, a um só país contrariar todo o Conselho de Segurança da ONU, órgão máximo de regulamentação dos direitos dos países. O pretexto de que havia bombas de destruição de massa até hoje não foi encontrada.

4.2. SEXO, SEXUALIDADE E MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Os meios de comunicação social - mass media - veiculam o apelo ao sexo em seus vários matizes, desde a propaganda de produtos até a venda do próprio sexo, como é o caso de muitos filmes pornográficos. As novelas televisivas, para ter audiência, evocam a separação e a troca de parceiros. É difícil observar alguém contente com o que tem. Está sempre interessado no bem do outro.

4.3. UMA QUESTÃO SEM RESPOSTA

Por que uma criança de seis anos mata? Podemos nos valer dos subsídios da Sociologia, da Psicologia, da Filosofia e da Religião. Contudo, a pergunta fica sem resposta, ou seja, não temos argumentos que explicitem tal questão de forma concreta. O jornalista italiano Furio Colombo, correspondente do jornal La Repubblica em Nova York, diz que as crianças matam quando nenhum outro rito de iniciação - escola, família e experiência boa - existe no mundo em que vivemos. Nos Estados Unidos da América, as crianças vêem o bandido, o herói de cinema e o Estado matar. O que se passa no seu interior? Se esta ação é exercitada pelo próprio Estado, por que eu não posso fazer o mesmo? (Reale, 1999, p. 112)

4.4. FESTIM DE TIROS

Michael Mooris, em recente filme, analisou a violência nos Estados Unidos. Como repórter, ele vai a busca das explicações acerca da violência em seu país. O documentário tenta comparar o uso de armas nos EUA com outros países, especialmente o Canadá. No Canadá usam-se armas como nos Estados Unidos, mas lá não se matam tantas pessoas. A explicação que recebeu acerca da violência nos Estados Unidos é que este país construiu o seu patrimônio através de muitas lutas e ocupações, a começar pela expulsão dos índios.

5. AMOR RACIONAL

5.1. A MAIÊUTICA SOCRÁTICA

Sócrates talvez tenha sido o primeiro filósofo a nos dar uma imagem desse tipo de amor. Como todos temos lembrança, ele fora condenado a beber cicuta, em virtude de desobedecer aos deuses gregos e por abrir a mente dos jovens. Na prisão, embora injustamente, soube esperar a sua morte, dizendo que preferia morrer a desobedecer a uma só lei do Estado. Naquela época, a cidade ou a política tinha um valor denominado civitas, ou seja, havia sempre a preocupação de buscar o bem comum. Ele simplesmente não queria atrapalhar o bem comum. Valia-se da persuasão e da razão para conseguir alguma coisa.

5.2. GHANDI E A POLÍTICA DA NÃO-VIOLÊNCIA

Ghandi, cognominado de político da não-violência, afrontou o poderio britânico sem usar nenhuma arma. Preferiu humilhar-se e fazer jejum a levantar uma só arma para atacar o poderio britânico. Este nobre exemplo procurava passar aos seus comandados.

5.3. MARTIR LUTER KING

Outro herói do apelo a não-violência. Queria conseguir as coisas com as suas idéias de justiça e de liberdade, em que todos deveriam ser beneficiados com a política do estado e não o estado espoliar as pessoas mais pobres.

6. AMOR DE DOAÇÃO

6.1. JESUS CRISTO É O MODELO DO AMOR

Jesus foi o mais elevado e ilustre Espírito que veio da esfera crística para nos dar o exemplo de como amar corretamente. Para começar, obedeceu ao Pai Criador, ao pai terrestre (José). Deixou-se batizar por João Batista. A sua pregação evangélica dirigia-se contra o poderio romano, mas sem desobedecer à lei deste Estado. Um exemplo clássico é o daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Esta foi a resposta que deu à pessoa que lhe mostrou uma moeda, onde em uma das faces estava a figura de César.

6.2. SANTO AGOSTINHO

Há uma frase de Santo Agostinho que diz "Ama, e faze ao que queres". Se calas, cala por amor; se falas, fala por amor; se corriges, corrige por amor; se perdoas, perdoa por amor. O amor deve estar no centro de todas as nossas ações. O que isso quer dizer? Que quando nos relacionarmos com o nosso próximo, devemos fazê-lo dentro de um clima de respeito e de auxílio mútuo, cooperando com tudo o que nos rodeia. (Reale, 1999, p. 122.)

6.3. O AMOR SEGUNDO O ESPIRITISMO

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ensina-nos que o amor resume inteiramente a doutrina de Jesus. Diz-nos que "no início o homem não tem senão instintos; mais elevado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado tem sentimentos; e o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas". (Kardec, 1984, p. 146)

7. CONCLUSÃO

Saibamos exercitar o amor, patrimônio inalienável do nosso Espírito imortal. É através do sentimento mais puro que o homem pode galgar horizontes cada vez mais vastos na senda escabrosa de nossa evolução espiritual.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CURTI, R. Espiritismo e Reforma Íntima. 3. ed., São Paulo, FEESP, 1981.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado. Lisboa/São Paulo, Verbo, 1986.
REALE, G. O Saber dos Antigos: Terapia para os Tempos Atuais. Tradução de Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Loyola, 1999.
SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.

São Paulo, maio de 2004

Fonte: Site "Centro Espírita Ismael"

sábado, 12 de julho de 2008

Desencarne

Sérgio Biagi Gregório


SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Aspectos Históricos da Morte. 4. A Morte: Cultura e Religião: 4.1. Cultura Americana Versus Cultura Micronésia; 4.2. A Influência da Religião nas Atitudes dos Indivíduos. 5. A Vida após Morte: 5.1. O Existencialismo Sartreano; 5.2. O Temor da Morte; 5.3. As Concepções de Mundo e a Vida após a Morte; 5.4 Algumas Sensações Descritas pelos Espíritos Desencarnados. 6. Preparação para a Morte: 6.1. Vida bem Aplicada; 6.2. Treino para a Morte; 6.3. Perseverar até o Fim. 7. Conclusões. 8. Bibliografia Consultada.


1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é refletir sobre a morte, um dos problemas mais difíceis de ser enfrentado, pois foi sempre vista como mistério, superstição e fascinação. Anotaremos alguns dados históricos, seus aspectos culturais e religiosos e a contribuição que o Espiritismo pode oferecer para uma melhor compreensão do tema.

2. CONCEITO

Do lat. mortem - é a cessação da vida e manifesta-se pela extinção das atividades vitais: crescimento, assimilação e reprodução no domínio vegetativo; apetites sensoriais no domínio sensitivo.

No âmbito da Doutrina Espírita, é o desprendimento total do Espírito do corpo físico em conseqüência da ruptura do laço fluídico, que prende ou liga um ao outro, quando então há o falecimento.

3. ASPECTOS HISTÓRICOS DA MORTE

Na Antigüidade prevalecia o sentimento natural e duradouro de familiaridade com a morte. Sócrates, por exemplo, ensinava-nos que a filosofia nada mais era do que uma preparação para a morte. Nas sociedades tribais, o problema da morte não existia porque o indivíduo tinha um peso muito diminuto com relação à coletividade. Deixando de viver, a pessoa imediatamente fazia parte da "sociedade dos mortos", inclusive, com a possibilidade de se comunicar com os vivos.

Durante a Idade Média, marcada pela forte influência da religião, a população era educada no sentido de aceitar a morte como um destino inexorável dos deuses. Dentro desse contexto, cada qual esperava passivamente a sua passagem deste para o outro mundo. Além disso, esse período caracterizava-se também pelo sentimento de respeito ao morto, inclusive com as cerimônias religiosas, a observância do tempo de luto, as visitas ao cemitério etc. Como as pessoas morriam em casa, as crianças podiam passar e brincar junto ao féretro, que geralmente ocupava o lugar mais destacado da casa.

Na Idade Moderna, depois de Revolução Industrial, e com o desenvolvimento do consumismo, vemos que a morte começa a ser interdita, ou seja, proibida. Como não temos mais tempo de cuidar dos velhos e dos doentes, deixamos essa incumbência para os hospitais, que estão preparados para salvar vidas e não cultuar a morte. Em certo sentido, a morte é um fracasso da medicina. Depois de morto, o defunto é encaminhado ao necrotério, onde se faz o velório. Tudo isso longe das crianças. Para elas diz-se que teve um sono duradouro e está descansando nos jardins do Éden. A sofisticação chega ao ponto de se criar o "Funeral Home", casa de embelezamento de cadáveres. (Aries, 1977)

4. A MORTE: CULTURA E RELIGIÃO

4.1. CULTURA AMERICANA VERSUS A CULTURA MICRONÉSIA

O Dr. Frank Mahoney, professor de Antropologia da Universidade do Havaí, mostrou a diferença entre a cultura americana e a da sociedade Micronésia, a dos Trukeses. Os americanos negam a morte e o envelhecimento; os habitantes das ilhas Truk (Pacífico) ratificam-na. Relutamos em revelar nossa idade; gastamos fortunas para esconder nossas rugas; preferimos enviar nossos velhos aos asilos. Para os Trukeses, a vida termina aos 40 anos de idade: aí começa a morte. (Kübler-Ross, s.d.p.)

4.2. A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO NAS ATITUDES DOS INDIVÍDUOS

As religiões têm exercido poderosa influência nas atitudes dos indivíduos com relação ao passamento para a outra dimensão de vida.

Para os judeus, a lei permite ao moribundo que vai morrer por sua casa em ordem, abençoar a família, enviar mensagem aos que lhe parecem importantes, e fazer as pazes com Deus. A confissão in extremis é considerada importante elemento na transição para o outro mundo.

Para o hinduismo, na morte a alma ou essência espiritual (atman) do indivíduo é eterna. Como tal, não é atingida pelas várias alterações no estado de existência porque passa o fenomenal eu ou ego (jiva) em cada período de vida.

Para o Budismo, a vida depois da morte é um problema sobre o qual nada pode ser dito. Não nega nem afirma a vida após a morte. Deixa essa questão em aberto.

Para o Catolicismo, a vida depois da morte está inserida na crença de um Céu, de um Inferno e de um Purgatório. Dependendo de seus atos, ele se dirige para cada um desses lugares circunscritos nos espaço. . (Kübler-Ross, s. d. p.)

Para o Espiritismo, a vida depois da morte reveste-se de substancial significado, pois iremos tanto para lugares iluminados como para trevosos, dependendo do estado de nossa consciência.

5. A VIDA APÓS A MORTE

5.1. O EXISTENCIALISMO SARTREANO

De acordo com Sartre, filósofo francês, na sua teoria sobre o Existencialismo, o indivíduo tem uma única existência, que corresponde aos seus 5... 10... 20... ou mais anos de idade. Para ele, não há vida nem antes do nascimento e nem depois da morte. Acha que cada um nasce como uma tabula rasa e vai impregnando o seu o seu ser com as experiências provenientes das escolhas efetuadas. Como conseqüência, a angústia passa a ser a sua ferramenta de análise.

5.2. O TEMOR DA MORTE

Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno, trata exaustivamente do problema da morte. Diz-nos que o temor da morte decorre da noção insuficiente da vida futura, embora denote também a necessidade de viver e o receio da destruição total. Segundo o seu ponto de vista, o espírita não teme a morte, porque a vida deixa de ser uma hipótese para ser realidade. Ou seja, continuamos individualizados e sujeitos ao progresso, mesmo na ausência da vestimenta física.

5.3. AS CONCEPÇÕES DE MUNDO E A VIDA APÓS A MORTE

Os pensadores da humanidade desenvolveram, ao longo do tempo, três concepções de mundo: Materialista, Idealista e Religiosa. De acordo com essas concepções, construíram as diversas doutrinas. As mais importantes para o propósito de nossos estudos dizem respeito ao Niilismo, ao Panteísmo, ao Dogmatismo Religioso e ao Espiritismo.

Para o Niilismo, a matéria sendo a única fonte do ser, a morte é considerada o fim de tudo. Para o Panteísmo, o Espírito, ao encarnar, é extraído do todo universal; individualiza-se em cada ser durante a vida e volta, por efeito da morte, à massa comum. Para o Dogmatismo Religioso, a alma, independente da matéria, é criada por ocasião do nascimento do ser; sobrevive e conserva a individualidade após a morte. A sua sorte já está determinada: os que morreram em "pecado" irão para o fogo eterno; os justos, para o céu, gozar as delícias do paraíso. Para o Espiritismo, o Espírito, independente da matéria, foi criado simples e ignorante. Todos partiram do mesmo ponto, sujeitos à lei do progresso. Aqueles que praticam o bem, evoluem mais rapidamente e fazem parte da legião dos "anjos", dos "arcanjos" e dos "querubins". Os que praticam o mal, recebem novas oportunidades de melhoria, através das inúmeras encarnações. (Kardec, 1975 p. 193 a 200)

5.4 ALGUMAS SENSAÇÕES DESCRITAS PELOS ESPÍRITOS DESENCARNADOS

1) Todos afirmam se terem encontrado novamente com a forma humana, nessa existência.

2) Terem ignorado, durante algum tempo, que estavam mortos.

3) Haverem passado, no curso da crise pré-agônica, ou pouco depois, pela prova da reminiscência sintética de todos os acontecimentos da existência que se lhes acabava.

4) Acolhidos pelos familiares e amigos.

5) Haverem passado "sono reparador".

6) Meio espiritual radioso e maravilhoso ou tenebroso.

7) Terem passado por um túnel. (Bozzano, 1930)

6. PREPARAÇÃO PARA A MORTE

6.1. VIDA BEM APLICADA

O excesso de preparação para a morte é um erro. A única preparação verdadeiramente útil para uma boa morte é uma vida bem aplicada. Assim, o perdão aos inimigos, o sentimento de dever cumprido e a clareza de consciência têm um peso bem maior do que toda a preparação formal. Observe a morte de Sócrates: obrigado a beber cicuta, partiu com a consciência tranqüila, enquanto os seus juízes deveriam sofrer as conseqüências daquela injustiça.

6.2. TREINO PARA A MORTE

O Espírito Irmão X, no capítulo 4 do livro Cartas e Crônicas, lembra-nos de alguns detalhes sumamente valiosos para enfrentarmos a morte com tranqüilidade. Diz-nos ele:

Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer carne dos animais;

Os excitantes largamente ingeridos constituem outra perigosa obsessão. Não se renda à tentação dos narcóticos;

Deixe os testamentos em dia;

Não se apegue demasiado aos laços consangüíneos.

Convença-se de que se você não experimenta simpatia por determinadas pessoas, há muita gente que suporta você com muito esforço. (Xavier, 1974)

6.3. PERSEVERAR ATÉ O FIM

Para contratarmos casamento, obtermos um cargo e aspirarmos a uma posição social vantajosa recorremos aos conselhos, precauções e dietas. E para alcançar o Reino de Deus, o que fazemos? Que procedimento seguimos? Pouco ou quase nada.

Persuadamo-nos, pois, que a felicidade eterna é para nós o negócio mais importante, o negócio único, o negócio irreparável se não o pudermos realizar.

Francisco Hazzera, assim se expressou: "Tu, meu filho, terás carreira brilhante: serás bom advogado, depois prelado, a seguir cardeal, quem sabe? Talvez papa... mas e depois? E depois?" É sobre "o depois" que devemos posicionar o nosso pensamento. Quais são as conseqüências de nossas escolhas? Elas servem para a nossa evolução ou para a nossa ruína?

7. CONCLUSÕES

Enfrentemos a morte com a mesma determinação com a qual enfrentamos a vida. Se, todas as noites, pudermos "morrer" tranqüilos, o passamento definitivo não nos acarretará problema algum, pois o desprendimento fará parte de nossa natureza.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARIES, P. História da Morte no Ocidente: da Idade Média aos nossos Dias. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1977.
BOZZANO, Ernesto. Crise da Morte. Rio de Janeiro: FEB, 1930.
KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.
KUBLER-ROSS, E. Morte - Estágio Final da Evolução. Rio de Janeiro: Record, [s.d. p.]
XAVIER, F. C. Cartas e Crônicas, pelo Espírito Irmão X. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1974.


São Paulo, 18/05/1996

Guia de Referência - Estudos



GUIA - HEU


Guia de referência, de caráter impessoal, construído com o intuito de solidariedade humana, indicando fontes de informações, objetiva estimular os estudos e pesquisas a respeito do Homem, Espírito e Universo (HEU).




quinta-feira, 3 de julho de 2008

O QUE TE FAZ MELHOR

Narra-se que Leonardo Boff, num intervalo de uma conversa de mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, perguntou ao Dalai Lama:

Santidade, qual a melhor religião?

O teólogo confessa que esperava que ele dissesse: É o budismo tibetano. Ou são as religiões orientais, muito mais antigas que o cristianismo.

O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, olhou seu inquiridor bem nos olhos, desconcertando-o um pouco, como se soubesse da certa dose de malícia na pergunta, e afirmou:

A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor.

Para quem sabe sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, Boff voltou a perguntar:

O que me faz melhor?

Aquilo que te faz mais compassivo; aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável...

A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião...

Boff confessa que calou, maravilhado, e até os dias de hoje ainda rumina a resposta recebida, sábia e irrefutável.

O Dalai Lama foi ao cerne da questão: a religião deve nos ser útil para a vida, como promotora de melhorias em nossa alma.

Não haverá religião mais certa, mais errada, mas sim aquela que é mais adequada para as necessidades deste ou daquele povo, desta ou daquela pessoa.

Se ela estiver promovendo o Espírito, impulsionando-o à evolução moral e estabelecendo este laço fundamental da criatura com o Criador – independente do nome que este leve – ela será uma ótima religião.

Ao contrário, se ela prega o sectarismo, a intolerância e a violência, é óbvio que ainda não cumpre adequadamente sua missão como religião.

O eminente Codificador do Espiritismo, Allan Kardec, quando analisou esta questão, recebeu a seguinte resposta dos Espíritos de luz:

Toda crença é respeitável quando sincera, e conduz à prática do bem. As crenças censuráveis são as que conduzem ao mal.

Desta forma, fica claro mais uma vez que a religião, por buscar nos aproximar de Deus, deve, da mesma forma, nos aproximar do bem, e da sua prática cotidiana.

Nenhum ritual, sacrifício, nenhuma prática externa será proveitosa, se não nos fizer melhores.

Deveríamos empreender nossos esforços na vida para nos tornarmos melhores.

Investir em tudo aquilo que nos faz mais compreensivos, mais sensíveis, mais amorosos, mais responsáveis.

A melhor Doutrina é a que melhor satisfaz ao coração e à razão, e que mais elementos tem para conduzir o homem ao bem.

* * *

Gandhi afirmava que uma vida sem religião é como um barco sem leme.

Certamente todos precisamos de um instrumento que nos dirija. Assim, procuremos aquela religião que nos fale à alma, que nos console e que nos promova como Espíritos imortais que somos.

Transmitamos às nossas crianças, desde cedo, esta importância de manter contato com o Criador, e de praticar o bem, acima de tudo.

Redação do Momento Espírita com base no item 838 de O livro dos espíritos, no item 302 de O livro dos médiuns, ambos de Allan Kardec, ed. Feb e no livro Espiritualidade, um caminho de transformação, de Leonardo Boff, ed. Sextante.
Em 26.06.2008.

Livro dos Espiritos - Questão 807


O Livro dos Espíritos

Allan Kardec


807. Que se deve pensar dos que abusam da superioridade de suas posições sociais, para, em proveito próprio, oprimir os fracos?

“Merecem anátema! Ai deles! Serão, a seu turno, oprimidos: renascerão numa existência em que terão de sofrer tudo o que tiverem feito sofrer aos outros.”



Biografias - Júlia Pêgo de Amorim




Anuário Espírita - 1979

Nasceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de setembro de 1879, sendo a primogênita do casal Marechal Antonio José Maria Pêgo Júnior e de D. Júlia Amália da Silva Pêgo. Diplomou-se em professora, pela antiga Escola Normal do DF, em 1898, lecionando em várias Escolas da Capital. Ocupou o cargo de Diretora de Música, da Escola Normal, estagiou na Escola “Benjamin Constant”, na Praia Vermelha, para cegos e foi diretora da Escola Pública de São Cristóvão, então 6º Distrito Escolar.

Casou-se em 1899, com o Dr. Aurélio D’Amorim, oficial do Exército, e foram residir no Alto da Boa Vista. Notando a ausência de Escolas naquela localidade, D. Júlia empenhou-se junto à Prefeitura Municipal, para que ali se fundasse uma, cedendo uma de suas salas para que funcionasse a primeira Escola do Alto da Boa Vista, mais tarde substituída pela Escola “Menezes Vieira”, ainda hoje existente no populoso bairro, da qual foi a primeira Diretora.

De família espírita, D. Júlia Pêgo de Amorim fez-se abnegada trabalhadora da Doutrina. Sua tia D. Engrácia Ferreira, pioneira do alfabeto Braille para cegos, desencarnou a 21 de abril de 1937. Menos de um mês depois, a 6 de maio, comunicava-se através de Chico Xavier, dando uma mensagem dirigida a D. Júlia, solicitando a continuação de sua obra. Onze dias depois, Chico recebe a segunda mensagem, agora na própria grafia do braille, que foi publicada em “Reformador” de junho de 1938; diz uma nota de rodapé da revista que o médium, por não conhecer o alfabeto braille, levou duas horas para receber essa comunicação psicográfica. Reproduzimos fotograficamente essa mensagem, que, em nosso abecedário, é assim transcrita: “Minha boa Julinha, a Paz de Deus, nosso Pai, seja em teu generoso coração, sempre tão cheio de fé. Trabalhemos pelos cegos, minha filha, pensando que a cegueira do espírito é bem mais triste que a dos olhos. Hei de ajudar-te com o favor de Deus. A tia - Engrácia.”

No dia 16 de novembro de 1938, transmite a 3ª mensagem, sugerindo que ela transpusesse para o Braille determinado Dicionário de Português, obra que havia deixada inacabada. D. Júlia atendendo a solicitação da querida amiga espiritual, aprendeu sozinha o alfabeto Braille, copiando letra por letra; para certificar-se, pediu a um cego que lesse o que havia escrito, cujo resultado encheu-lhe de alegrias e a partir daí, transformou-se numa verdadeira missionária do Braille.

Reuniu em sua casa várias senhoras interessadas nessa obra de altruísmo, na prática do ensino Braille. Em 1939, iniciou a transcrição do Dicionário da Língua Portuguesa, da autoria de Hildebrando Lima e Gustavo Barroso, cujo trabalho durou cerca de quatro anos, dando ao todo 64 volumes. Em 1945, Chico Xavier recebe a 5ª mensagem do Espírito Engrácia Ferreira, agradecendo a sobrinha o atendimento e o valioso trabalho em prol dos cegos.
D. Júlia iniciou um curso gratuito do Braille no centro da cidade, visando maior número de colaboradores. Transcreveu para esse alfabeto inúmeras obras espíritas e não espíritas, entre as quais: “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “Agenda Cristã”, “Cartas do Evangelho”, “Voltei”, “Pequenas Mensagens” e muitos outros, todos doados à Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille” (SPLEB).

A sua desencarnação ocorreu no Rio de Janeiro, em 29 de novembro de 1974, aos 95 anos de idade, dos quais 37 dedicados à Doutrina Espírita e ao Braille. Deixou exemplos dignificantes, de quanto vale entender o Evangelho de Jesus e sua Doutrina, que enseja a fé raciocinada, capaz de separar a letra que mata, do espírito que vivifica.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Solidariedade

Enéas Martim Canhadas

Estava fazendo minha caminhada habitual pela avenida Sumaré, quando um filhote de cão, talvez de uns 40 dias de vida, se tanto, abandonado ali na Praça Irmãos Karman, veio para a beira da calçada e logo, o seu focinho curioso fez com que ele descesse até o asfalto. Olhava a cena, enquanto o meu coração acelerava, prestes a ver, e ao mesmo tempo não querendo ver, um acontecimento impiedoso e quase certo. Os carros passavam à velocidade normal permitida ali, e o cãozinho iria virar carne moída dentro de pouco tempo. Arriscando-me por entre alguns carros que até diminuíram a marcha e outros tantos passando direto, com cuidado fui me aproximando do animal, receoso pelo trânsito que não parava. O cãozinho já estava quase no meio da avenida, totalmente indefeso e correndo um risco total, mesmo porque ele poderia ser morto até por não ser visto pelos motoristas.

Nesse momento, um Sr. Marronzinho que acompanhava toda a cena veio do outro lado e com mais autoridade, foi parando o trânsito até que peguei o filhote e, juntos fomos para a praça em lugar seguro. Perguntávamos um para o outro quem teria abandonado aquele cãozinho ali e como poderíamos cuidar do destino dele.

Nesse mesmo momento, veio do outro lado da rua uma senhora fina e elegante, trajando um conjunto de cores muito bem combinadas que, tomando o cãozinho no colo, disse poder levá-lo para a sua veterinária de confiança que o doaria a alguém, isto é, se não quiséssemos levá-lo. Perguntou a mim e ao Sr. Marronzinho se estávamos interessados em adotar o bichinho. Ele explicou que estava em serviço, senão poderia até levá-lo. Eu perdera há pouco tempo o meu cão pastor com 11 anos de idade, fiel amigo de tantas caminhadas e que me fez adquirir o saudável hábito de caminhar pelas ruas e avenidas do meu bairro. Ainda com o coração doendo, não queria adotar nenhum cão, pelo menos, não por enquanto.

Uma outra jovem senhora, simples e sorridente, carinhosa, logo pegou o cãozinho e segurando-o contra o peito, dizia que desejava muito levá-lo mas o problema é que não tinha espaço em sua casa. A senhora elegante, gentil e educada insistiu para que ela levasse o cãozinho. Praticamente havia tomado a decisão pela jovem que titubeava em adotar o animal. Logo se preocupou em como poderia arranjar uma maneira de transportá-lo até sua casa. Prontamente, um motorista do ponto de taxi próximo, disse que deveria ter um pedaço de pano no porta-malas do seu carro e afirmou que a banca de jornal do outro lado da rua, com certeza, poderia arrumar uma sacola plástica que permitiria carregar o filhote.

Assim fora resolvida a situação encaminhando a história para um final feliz. Um cuidado daqui, uma atenção dali, várias pessoas juntamente buscando solucionar aquele problema, para que o animalzinho fosse rapidamente adotado e, a partir daquele dia, tivesse um lar.

Logo depois voltei para a minha caminhada, tocado por aquele acontecimento e como, do nada, várias pessoas surgiram, prontas e bem intencionadas para por em uso a sua bondade, a sua compaixão e num gesto muito espontâneo e simples de solidariedade, providenciar uma casa e um destino para o filhote.

Hoje, quando me lembro da cena, não consigo deixar de pensar como ser solidário é um gesto simples. Não tem regras, não precisa de normas nem de campanhas, não precisamos de nos fazer muitas perguntas a respeito. Basta praticar o ato. Sim, como uma coisa muito natural. Tão natural como o samaritano que socorreu o homem caído à beira da estrada e ainda o levou a uma estalagem, onde pudesse receber tratamento e remédios, deixando até dinheiro para pagar as despesas daquele homem, de quem o samaritano nem sabia o nome ou a procedência, nem que pessoa seria, nem dos seus princípios morais, nem de suas convicções religiosas. Foi um ato tão completo e espontâneo como se o mundo, de fato, não tivesse divisão de países com suas fronteiras, em que as nações falassem uma mesma língua e sem religiões, os seres humanos não estariam enclausurados em suas convicções morais, defendendo este ou aquele princípio, e até mesmo defendendo deuses próprios, supostamente melhores do que outros, como os combates na antigüidade, onde as guerras que os seres humanos travavam eram também guerras entre deuses.

Como já disse, de vez em quando sou tomado pelas lembranças do fato, sinto-me então solidário e um pouco melhor do que normalmente sou. Mas sinto também que, quando um fato como este não está tão forte e presente na minha mente, não me vejo tão naturalmente bom, nem tão espontaneamente disposto a praticar o bem por mais simples que seja. Me lembrei do ensinamento de Aristóteles escrevendo em Ética a Nicômaco: “as virtudes são pois, de duas espécies, a intelectual e a moral, a primeira, por via de regra, gera-se e cresce graças ao ensino – por isso, requer experiência e tempo; enquanto a virtude moral é adquirida em resultado do hábito. Não é pois por natureza, nem contrariando a natureza que as virtudes se geram em nós. Diga-se, antes, que somos adaptados por natureza a recebê-las e nos tornamos perfeitos pelo hábito.”

Sempre me pego pensando, o quanto ainda devo praticar para adquirir o hábito...

03/06/2003

Fonte: Portal do Espírito.