sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Ao meu pai

 

Ao meu pai

Recordo-o ainda. Ele saiu, em um dia de sol, para viajar e nunca mais retornou para nossos olhos físicos.

Quando o trouxeram, era somente um corpo dentro de um caixão. Lacrado, ao demais, tendo em vista os dias passados desde a sua morte.

Meu pai era um homem alegre. Gostava de música, de dança, de estar com amigos, conversar, contar causos.

E ele os tinha às centenas. Toda vez que retornava de viagem, os filhos, éramos três os menores, nos reuníamos em torno da mesa, na cozinha ampla, para ouvi-lo.

Ele contava causos de forma pausada. Ia descrevendo as cenas, uma a uma, reproduzia os diálogos.

Por vezes, meu irmão e eu, mais impacientes, o interrompíamos: E daí, o que aconteceu? Conta logo.

Ele sorria mostrando seus dentes curtos, bem moldados. E continuava com a mesma calma, até o desfecho da história.

Tê-lo em casa era muito bom e significava que um de nós iria dormir na cama dos pais.

Por vezes, nossa mãe nos dizia que desejava ficar a sós com ele. Mas, mal despertava a madrugada, quem primeiro acordasse, corria para o quarto e se enfiava entre os dois.

Ele acordava e brincava conosco, fazendo cócegas, jogando travesseiro. Era uma festa!

Meu pai! Quantas saudades! Ele não era letrado. Desde bem jovem conhecera o trabalho duro.

Constituíra família cedo e os cinco filhos lhe exigiam que desse o máximo de si.

Insistia que precisávamos estudar. E estudar muito. A duras penas, pagou para cada um de nós o ensino fundamental, em escola particular.

Escolheu a melhor escola da cidade. Pagou cursos de piano, acordeon, violino para minha irmã, que cedo entrou para o mundo da música.

Meu irmão e eu não chegamos a tanto, mas fomos brindados com o que ele tinha de mais precioso.

Ensinou-nos a honestidade, ensinou-nos que melhor era ser enganado do que enganar.

Viveu no tempo em que a palavra de um homem era documento mais válido do que nota promissória, duplicata ou qualquer título financeiro.

Legou-nos um nome honrado e disse-nos que o dignificássemos, ao longo de nossa vida.

Olhava para mim, com orgulho e dizia: Um dia você será uma pessoa muito importante!

Hoje, quando viajo pelas estradas, muitas delas velhas conhecidas de meu pai, eu o recordo.

Será que ele sabia que um dia eu seria alguém que viajaria, esclarecendo pessoas, ofertando cursos?

Ele não conheceu todos os netos. Partiu para a Espiritualidade, em anos jovens, deixando-nos um grande silêncio n´alma.

Em homenagem a ele, em nossos aniversários, nas festas de Natal e Ano Novo, nos encontramos.

Rimos, ouvimos música, dançamos. Porque ele nos ensinou a sermos assim.

A vida é dura, mas nós a podemos adoçar, se quisermos. – É o que dizia.

Meu pai, meu mestre, onde estejas, Deus te guarde. Especialmente nesta época em que os pais são recordados pelos filhos, que os brindam com presentes.

Meus irmãos e eu te brindamos com a prece da nossa gratidão: Obrigado por nos terdes dado a vida.

Obrigado por nos terdes ensinado a bem vivê-la.

FONTE:Redação do Momento Espírita.
Em 07.08.2009

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