KARDEC E O AUTO CONHECIMENTO
Autor: Wellington Balbo (*)
Complicado andar por terras estranhas, em uma viagem onde falta conhecimento do caminho a seguir. Quando isso ocorre as chances de erro são grandes. Imprescindível, portanto, se munir de todas as condições para que essa viagem transcorra da melhor forma possível.
A viagem que nos referimos aqui é o retorno do Espírito ao mundo da matéria, pelas portas sagradas da reencarnação.
Mas e o planejamento? Não planejamos essa viagem de retorno ao mundo físico? Se planejamos, não será algo tão estranho, afinal, é como se relembrássemos os caminhos a percorrer, basta seguir o planejado e não nos perderemos.
Sim, é verdade, se seguirmos o planejamento elaborado, procurando cumpri-lo, tudo é mais fácil, contudo, todo planejamento está sujeito à mudança de rumo, porquanto, depende de nossas escolhas.
Podemos seguir o que foi planejado no plano dos Espíritos, como podemos, entorpecidos pelos sentidos da carne, adentrarmos outros caminhos.
Então, como lograr êxito em nossa jornada terrena se não cumprimos o que nos foi traçado outrora, no plano espiritual? Afinal, se optamos por outros caminhos que não os estudados e planejados, nossas chances de sucesso ficam mais difíceis.
Sim, podem até ficar mais difíceis, mas não impossíveis, a saída do que foi planejado não quer dizer fracasso existencial.
Entretanto, há em toda essa história um ingrediente que faz a diferença em nosso favor: o auto conhecimento!
Auto conhecimento que está explícito na codificação da Doutrina Espírita, mais precisamente na questão de nº 919, de “O livro dos Espíritos”, onde os benfeitores indicam o auto conhecimento como condição essencial para o sucesso nos palcos da vida.
Quem exercita o auto conhecimento sabe as virtudes que possui e limitações a superar.
E diga-se de passagem, conhecer as virtudes não quer dizer ser prepotente, mas sim saber as conquistas efetuadas, ou alguém duvida que temos muitas conquistas?
Sim, temos muitas virtudes, muitas habilidades que desenvolvemos ao longo de nossas existências. O grande problema é que muitos consideram que saber da existência dessas virtudes é se vangloriar.
Nada disso, isso é se auto conhecer, saber o que já foi conquistado. O que não pode é descambar aos excessos e idolatrar a própria figura, ou utilizar as conquistas efetuadas no campo da cultura, por exemplo, para constranger o semelhante, ai é outra história.
Quem se considera professor da vida, ser efetivamente pronto a ocupar digníssimo lugar ao lado do PAI, entra em marco passo existencial deixando de avançar pela simples razão de se considerar pronto. Somos todos seres em constante construção, inseridos em um incessante processo de aquilatar virtudes e superar limitações, contudo, é necessário conhecer as virtudes que faltam conquistar e as mazelas que se deve depurar.
É ilustrativo o caso do alcoolismo, uma doença que só é vencida quando o alcoólatra toma ciência de sua condição. Precisa o alcoólatra primeiro admitir que está doente, para depois vencer o vício. Enquanto o alcoólatra tenta se enganar, considerando que nada tem, persistirá doente por um simples motivo: ignorância!
Esse exemplo apenas demonstra a necessidade constante que temos de cultivar o auto conhecimento, nos estudando permanentemente para que não fiquemos a mercê de nossas mazelas.
E no quesito auto conhecimento, vale a pela lembrar Kardec, porquanto, se auto conhecia e sabia das virtudes que possuía, como também tinha plena ciência de que não era o único capaz de desempenhar o trabalho de organização da Doutrina Espírita.
E demonstra isso de maneira objetiva e segura, sem ares de superioridade que caracteriza o ser prepotente. Nos diz em “Obras Póstumas”, referindo-se a caridade: (...) “Certamente não me cabe fazer o inventário do bem que pude fazer; mas, num momento em que parece tudo esquecer-se, é-me muito permitido, creio, chamar à minha lembrança que a minha consciência me diz que não fiz mal a ninguém, que fiz todo o bem que pude, e isso o repito sem ostentação; sob esse aspecto, a minha consciência está tranqüila” (...)
E na mesma obra acima citada, extraímos outra prova de auto conhecimento que possuía o codificador, que não se considerava insubstituível, deixando explícito que uma obra gigantesca como o Espiritismo, não fica subordinada à apenas um homem, prova cabal da magnitude divina: (...) “Não tenho a pretensão de ser o único ser indispensável; que Deus é muito sábio para fazer repousar o futuro de uma doutrina, que deve regenerar o mundo, sobre a vida de um homem; que, aliás, sempre me foi dito que a minha tarefa era constituir a Doutrina, e que me será dado o tempo necessário” (...)
Na família, na sociedade, no trabalho e nas atividades voluntárias que desempenhamos, somos todos importantes, contudo, não insubstituíveis. Ter consciência da condição de eternos alunos da vida é o segredo para que não estagnemos na prepotência, nem nos afundemos nas obscuras águas da falta de confiança em nós mesmos. Todos temos virtudes, é importante saber disso. Todos temos limitações, e é mais importante ainda não ignorá-las, para que cumpramos fielmente os desígnios do criador, que almeja a todos um futuro promissor.
Pensemos nisso.
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(*) Wellington Balbo, nasceu em 1976 e milita no C.E. Joana D’arc, em Bauru - SP. Realiza um trabalho na área da literatura espírita onde tem artigos e textos publicados em vários jornais espíritas e sites, tais como:
www.seef.org.br / www.feal.org.br / www.jornaldosespiritos.com / www.ger.org.br / www.pintoresfamosos.com.br - Artigos não espíritas / Correio Fraterno do ABC / O Idealista – USE Jaú / Jornal Verdade e Luz – USE Ribeirão Preto. / www.orsonpcarrara.rg3.net
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